Após enfrentar até 13 graus abaixo de zero, caminhoneiro do Oeste fala sobre nevasca no Chile

Telmo Tussi mora em Ponte Serrada e foi um dos caminhoneiros presos na nevasca entre o Chile e a Argentina nos últimos dias

entenas de caminhoneiros enfrentaram nos últimos dias temperaturas abaixo de zero, dormiram em caminhões cobertos de gelo e driblaram dificuldades para conseguir se alimentar e até beber água. Telmo Tussi, morador de Ponte Serrada, esteve entre os motoristas que ficaram presos na nevasca na fronteira do Chile com a Argentina.

 

Em conversa com o Oeste Mais, ele relatou que em quase 30 anos de profissão, nunca tinha passado por uma situação tão difícil. Dos cerca de 150 caminhões parados no trecho onde Telmo estava, aproximadamente 80 eram do Brasil, de vários estados do país. “A gente estava ilhado. Teve lugar que a neve chegou a quatro metros”, lembra.

Caminhões ficaram parados em nevasca por vários dias na fronteira do Chile com a Argentina (Fotos: Arquivo Pessoal)

O caminhoneiro já está na Argentina. Após sair do Chile na noite da última quarta-feira, dia 3, ele deve chegar à fronteira do Brasil na segunda-feira, dia 8. Telmo saiu de casa ainda no dia 13 de junho, carregando carne de gado para o Chile.

 

Há 15 anos fazendo praticamente o mesmo trajeto, o motorista relata que nunca tinha passado por uma situação tão complicada como a enfrentada nos últimos dias. “De ficar parado dois dias, três dias, isso sempre foi normal. Agora, esses últimos dez dias que nós ficamos aí parados, foi bem difícil”, expressa.

 

“O acúmulo de neve foi muito forte. No começo estava tudo tranquilo, a gente sempre leva uma reserva de água”, lembra Telmo. Mas ele conta que o mantimento acabou congelando devido às baixas temperaturas. “Teve dias de pegar 12, 13 graus abaixo de zero. O vento é intenso, é congelante, não tem o que fazer”.

 

Dificuldades

 

Durante os dias em que ficou preso na neve, encontrar comida e suprir outras necessidades estiveram entre as principais dificuldades. Ele e outros motoristas foram obrigados a buscar pousadas e hotéis para conseguir comer, beber água e tomar banho. “Mas nada veio de graça, tudo eles cobraram”, conta, dizendo ainda que as noites eram passadas dentro dos caminhões, especialmente pelo medo de furto.

 

Ouça um trecho do relato de Telmo e imagens feitas por ele durante a nevasca:

Volta para casa

 

Depois dos dias desafiadores, o caminhoneiro segue viagem em direção ao Brasil. Ainda para sair do Chile, lembra que precisou acorrentar a carreta. Já na Argentina neste final de semana, vive situação bem melhor. “Aqui já está mais fácil, a gente já consegue encontrar mercado, conseguir água, a situação vai se resolvendo, melhorando aos poucos”.

 

Mesmo com previsão de chegada ao Brasil nesta segunda-feira, dia 8, a estimativa é que consiga descarregar em São Paulo somente no final de semana. Depois ele quer voltar para casa e curtir a família. “Na verdade, a gente mora dentro de um caminhão e passeia dentro de casa. Nunca vou trocar minha família por um caminhão, só que a gente precisa trabalhar, minha profissão é essa”, finaliza.