Casal de adolescentes esfaqueou a mãe, padrasto e irmão da menina, de 13 anos na sexta-feira
“Quando eu fui na delegacia, a primeira coisa que fiz foi ver ela. Abracei, falei que a amava e que ela sempre seria o meu bebê. Isso não vai mudar. Para uma mãe, é difícil mudar”. Uma semana passou desde que uma mulher de 38 anos foi esfaqueada pela própria filha em Itapoá, no Litoral Norte de Santa Catarina.
A adolescente, de 13 anos, e o namorado, de 15, esfaquearam a mãe da garota, o padrasto, de 30 anos e o irmão, de 18 anos na noite de sexta-feira (30), dentro da casa da família. Os adolescentes foram detidos e internados preventivamente a pedido do Ministério Público. A família foi encaminhada ao hospital e o adolescente precisou passar por cirurgia, mas nenhum corre risco de morte.
Apesar das marcas das agressões e do choque, a primeira reação da mãe ao ir até a delegacia prestar depoimento foi ver e abraçar a filha, mas uma semana depois, “a ficha ainda não caiu”. “Eu estou meio em choque ainda, porque nunca espera isso de um filho”, fala.
Ela lembra que estava dormindo quando ouviu os gritos do filho e se espantou com a cena que viu ao abrir a porta do quarto. “Eu acordei com os gritos dele, abri a porta e vi os dois em cima do meu filho, esfaqueando ele. Ele falava: ‘sou, eu, sou eu’, como quem diz: sou teu irmão, sem saber o que estava acontecendo. Ela que deu a primeira facada no irmão e depois os dois foram juntos para cima dele”, lembra.
O filme de terror continuou. A mãe lembra que, quando a filha a viu partiu em sua direção, e quando o companheiro apareceu, o namorado da filha o atacou. “Eu não estava entendendo, ela veio para cima de mim e eu tentando me defender sem entender a razão, sem entender nada. Eu só tentava me defender. Eu ainda estou tentando assimilar ainda porque a minha ficha ainda não caiu. Eu fui para o hospital sem entender nada”, fala.
A mãe conta que desde a separação entre ela e o pai da filha, ela mudou o comportamento e passou a ter auxílio psicológico, mas diz que objetos atípicos foram encontrados no quarto dela depois do ataque. “Ela estava tendo crise de ansiedade e se envolveu com coisas erradas pela fraqueza que ela estava. Com a epidemia, tudo fechou e ela foi se fechando e começou a mexer com coisa errada, coisa do mal”, diz. Ela conta que encontrou livros e desenhos com temáticas que a preocupa.
O namoro, conta a mãe, sempre foi aprovado pela família, que não atribui a conduta ao relacionamento. “Ela falava que abandonamos ela, mas eu não sabia, ela não falava, eu fui saber agora. Ela conseguiu induzir ele, ele estava apaixonado. Era bonitinho de ver os dois, eram muito educados e ele era muito carinhoso”, salienta.
O padrasto conta que, inicialmente, quando ouviu os gritos, pensou que fosse “uma briga de adolescentes”. Atacado pelo namorado da filha, ele conseguiu imobilizar o adolescente e ajudar a companheira.
“Não tem o que dizer, é algo que eu não esperava, ninguém esperava justamente pelo tratamento que dava à filha. Nunca deixamos faltar nada, sempre fomos proativos, preocupados com ela. É uma situação que a gente vê em filme, vê em reportagem e quando acontece com a gente, ficamos sem palavras para dizer o que aconteceu”, fala.
Adolescentes estão internados provisoriamente e ficaram em silêncio no depoimento
A delegada Milena de Fátima Rosa explica que o caso está sob sigilo a pedido do Ministério Público. O ato infracional é equiparado a tripla tentativa de homicídio e os adolescentes foram internados provisoriamente. Segundo ela, os dois permaneceram em silêncio na delegacia. A internação pode se estender por até 45 dias de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), enquanto o processo segue na Justiça.
A delegada afirma, ainda, que no âmbito policial restam algumas oitivas e juntada de laudos periciais e, depois de finalizado, o caso segue para o Judiciário. A pena privativa de liberdade pode chegar a três anos devido à gravidade do caso, salienta.
“De tudo que foi apurado, é uma família de classe média, estruturada, os familiares trabalham em ocupações lícitas, não detectamos nada de ilícito no local. Isso até dificulta a busca por uma possível motivação para esse ato infracional”, diz.
A delegada ressalta, ainda que os pais precisam estar atentos ao conteúdo consumido pelos filhos. “Eu acredito que, em linhas gerais, os pais precisam ficar muito atentos ao que os filhos costumam pesquisar na internet, aos filmes que costumam assistir, os livros que leem para entender como está a psique desses adolescentes, o desenvolvimento emocional porque é uma etapa muito delicada na vida”, finaliza.
O irmão da adolescente foi o mais atingido pela violência. Ele passou por cirurgia e continua internado, mas em estado estável. Ele será submetido a exame pericial e ouvido na delegacia.