Governador de SC é alvo de buscas em investigação sobre suposta fraude na compra de respiradores

A Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) cumpriram na manhã desta quarta-feira (30) mandado de busca e apreensão na Casa da Agronômica, onde mora o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), em Florianópolis, e também no Centro Administrativo do Governo.

O governador é alvo de uma operação que investiga a compra de 200 respiradores por R$ 33 milhões pagos antecipadamente pelo governo sem licitação. Em entrevista coletiva no fim da manhã desta quarta, o governador negou envolvimento em fraudes e voltou a dizer que não participou do processo de compras. “Quem determina a compra é o setor de compra da Secretaria de Saúde”, disse.

“O Ministério Público Federal divulga que está buscando provas, ou seja, se houve uma alegação de que houve autorização antecipada, se houve uma alegação de que o governador participou. […] Eles buscam provas. Não há essas provas, não encontrarão, obviamente, porque não há participação nossa, então eu acredito na Justiça”, afirmou o governador Carlos Moisés.

Segundo a PF, cinco mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos no estado e dois ex-integrantes do governo também são alvo da operação. Os nomes não foram divulgados pela operação, mas, segundo a NSC TV, são Amandio João da Silva, que ficou menos de dois meses como secretário da Casa Civil, e Sandro Yuri Pinheiro, ex-assessor especial da mesma pasta. Até as 12h, a reportagem tentava contato com a defesa dos dois.

Os mandados foram expedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e são necessários, segundo o MPF, para apurar a relação de Carlos Moisés com empresários que venderam aparelhos ao estado. A investigação na esfera federal começou em agosto, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) encaminhou o caso à Polícia Federal.

“Há elementos que demonstram a constituição de um esquema criminoso de desvio de dinheiro público”, informou o MPF, que investiga se ocorreu fraude à licitação, peculato, corrupção, concussão, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

A compra dos respiradores sem licitação também foi motivo de um pedido de impeachment de Carlos Moisés – ainda sem data para ser julgado – aberto na Assembleia Legislativa de Santa Catarina. O pedido se justifica, ainda, pelo processo de contratação do hospital de campanha de Itajaí, que acabou cancelada(leia mais abaixo).

Equipamentos não foram entregues

Os respiradores foram comprados em março pelo governo com pagamento antecipado e sem garantia de entrega. Apenas 50 dos 200 respiradores chegaram a Santa Catarina, mas foram confiscados pela Receita Federal por irregularidades na documentação antes de serem entregues ao estado. Segundo a Secretaria de Saúde, os aparelhos entregues não são iguais aos encomendados e não atendem os pré-requisitos para tratamento de pacientes com Covid-19. Por isso, foram destinados para uso em ambulâncias.

De acordo com o Procuradoria, as investigações sobre a compra desses respiradores apontaram indícios da participação do governador na contratação da empresa Veigamed para fornecimento dos aparelhos. Em entrevista à NSC neste mês, o político disse desconhecer o processo de compra com pagamento antecipado e negou omissão.

Quando a entrega de respiradores atrasou em abril, a Polícia Civil instaurou inquérito e o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também começou a investigar o caso com a operação Oxigênio. O próprio governo admitiu “fragilidades” na compra. O secretário de Saúde da época pediu exoneração. Outro secretário, da Casa Civil, também deixou o cargo e chegou a ser preso durante as investigações.

Segundo a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo, o mandado de busca e apreensão foi pedido para averiguar se a ordem de compra partiu do chefe do executivo.

Integrantes da operação cumpriram mandados de busca na casa do governador e no Centro Administrativo do Governo do Estado, que fica na SC-401 em Florianópolis. Não foi detalhado pela PF e MPF o que foi apreendido e até as 12h havia mandados sendo cumpridos.

O próprio governador e o governo em nota informaram que um celular e um computador (laptop) foram aprendidos na Casa da Agronômica e que os dois equipamentos já tinham sido oferecidos em julho à investigação.

“‘Importante destacar que o Governo do Estado apoia todas as investigações necessárias para apurar eventuais irregularidades no processo de compra de respiradores e permanece à disposição das autoridades para colaborar. Este apoio não é apenas formal, já que foi o próprio governador do Estado quem determinou, em 23 de abril, o início das investigações pela Polícia Civil”, informou em nota o governo.

Processos de impeachment

O governador de Santa Catarina e a vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) so alvo de dois processos de impeachment, sendo um deles pela compra dos respiradores alvos da operação da PF e outro por suposto crime de responsabilidade na concessão de aumento aos procuradores do estado em 2019. A previsão é que a concessão do aumento vá primeiro a julgamento, previsto para a segunda quinzena de outubro.

Na manhã desta quarta-feira, a vice governadora se manifestou pelas redes sociais e também negou envolvimento na compra dos respiradores. “Lamento profundamente que nosso Estado tenha que enfrentar mais este triste episódio. Santa Catarina não merece que sua integridade seja ferida”, disse.

O processo relacionado à compra dos respiradores é analisado por uma comissão especial de deputados. O processo sobre o aumento aos procuradores é analisado por um tribunal misto de deputados e desembargadores. O relator do tribunal de julgamento foi definido na semana passada e o roteiro prevê 40 itens a serem seguidos durante o processo de julgamento.

Há ainda um terceiro pedido, também relacionado à compra dos respiradores, que é avaliado pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Este pedido foi entregue oficialmente à presidência da Alesc em 8 de setembro por representantes da comissão parlamentar de inquérito (CPI) na Alesc que investigou a compra dos respiradores.