Médicos de Manaus dizem ter que escolher quem terá assistência, após falta de oxigênio

Com o aumento súbito da demanda por oxigênio e baixa oferta nos hospitais em Manaus (AM), os médicos que atuam no tratamento de pacientes com Covid-19 relatam que têm que escolher quais pacientes serão assistidos. De acordo com a NSC, os profissionais que atuam no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) dizem que a falta de oxigênio na unidade se agravou entre a madrugada e o início da manhã desta quinta-feira (14), e resultou na morte de seis pacientes nas primeiras horas do dia.

Segundo a NSC, eles alertam que mais óbitos podem ocorrer, uma vez que o estoque de oxigênio da unidade deve durar apenas mais algumas horas. A demanda por oxigênio da rede estadual de saúde, que era de cerca de 30 mil metros cúbicos por dia em abril de 2020, no primeiro pico da pandemia e chegou a 76 mil metros cúbicos na quarta-feira (13).

Alguns profissionais de saúde usam redes sociais para pedir doações de cilindros de oxigênio para uma população.

– A gente está sem oxigênio para os pacientes, a previsão é que acabe em duas horas. Já baixas temos de pacientes, então quem tem oxigênio em casa sobrando, por favor, traga aqui para hospital – desabafou em um vídeo o médico intensivista do HUGV, Anfremon D’Amazonas Monteiro Neto.

Outro médico que trabalha no HUGV relatou à NSC que as primeiras horas do dia na unidade foram de tensão, após o nível aumentar e afetar todos os pacientes internados que utilizavam respiradores.

– Hoje (14) é o pior dia do hospital desde o início da pandemia – relatou o profissional, que é residente na unidade.

Ele contou que, por volta de 8h desta quinta (14), o nível de oxigênio no HUGV chegou ao ponto mais crítico, o que causou o óbito de cinco pacientes que estavam em condições mecânicas no CTI e um que estava internado na enfermaria.

– A situação se agravou de uma forma muito rápida. É muito complicado, porque quando a rede de oxigênio baixa, todos os pacientes ao mesmo tempo, então você acaba tendo que priorizar pelo prognóstico, temos que escolher quem vai ser assistido – relatou.

O médico diz ainda que a escassez de oxigênio preocupa ainda mais pelo fato de o HUGV ser uma unidade de saúde preparada para desafogar os hospitais de referência para Covid-19, que estão perto da lotação máxima para leitos de UTI.

De acordo com a NSC, o médico ainda relatou que os cilindros de oxigênio doados por outras unidades, privadas e pela própria população ao HUGV na manhã de quinta, não será suficiente para garantir o atendimento até o fim do dia.

– Temos cilindros de oxigênio que vão durar algumas horas, mas ainda não sabemos quando a rede vai ser restabelecida – disse.

Outra médica relatou que não estava de plantão, mas foi para o hospital na manhã de quinta-feira, após receber diversos pedidos de socorro de outros profissionais da saúde que estavam desesperados com a falta de oxigênio.  Segundo relato da médica, a preocupação é com os pacientes graves, que estão na UTI com uso de respirador, equipamento que não funciona perfeitamente sem oxigênio no nível adequado.

Sem oxigênio, os pacientes precisam ser “ambusados”, ou seja, dependente de uma pessoa manusear o ambu (manual do aparelho necessário) de forma ininterrupta. O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Mauro Vianna, denunciou que uma situação do HUGV está se repetindo em outras unidades de saúde da capital, onde “pacientes que precisam de oxigênio são ambusados”.

Ainda de acordo com a NSC, o presidente do sindicato afirmou que os profissionais de saúde alertaram para essa situação, que ele classificou como terrível, e defendeu uma “operação de guerra” para relatório de estoque dos hospitais de Manaus antes que todos fiquem sem oxigênio.

– Transportar oxigênio de outros estados em caráter de guerra é uma necessidade para salvar vidas. E que Deus nos ajude.

Fonte: CLICRDC / Foto: Altemar Alcantara/Secom