Novas regras para a produção de leite começam a valer hoje em SC

As novas exigências para a produção de leite que passam a vigorar a partir desta quinta-feira (30) preocupam o campo e as indústrias. Enquanto um grupo é favorável às instruções normativas 76 e 77 publicadas pelo Ministério da Agricultura, por considerar que elevará a qualidade dos produtos, outros são contrários, pois calculam que metade do leite produzido em Santa Catarina não vai atender às medidas. Os padrões exigidos irão aumentar.

A principal mudança é para a indústria, que terá de receber o leite nos seus silos de estoque a, no máximo, 7°C. Atualmente esse limite é de 10°C. Para o produtor é de 4°C.

Outra mudança é uma exigência de contagem de placas bacterianas inferior a 300 mil por mililitro ao produtor e 900 mil para a indústria. Essa média já era cobrada do produtor. Porém, a partir de agora, quem não ficar nessa média por trimestre terá a coleta suspensa até que comprove medidas para ficar dentro desse padrão. Na indústria, onde não havia essa norma, a contagem vai para 900 mil placas bacterianas por mililitro.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados de Santa Catarina (Sindileite), Valter Brandalise, diz que as instruções têm aspectos positivos para melhorar a qualidade do leite, mas que as exigências para a indústria serão difíceis de atingir os padrões.

— Bem mais da metade do leite não vai atender esses padrões, pois tem produtores com resfriadores fora do padrão, temos grandes distâncias de transporte e em algumas regiões do país a temperatura chega a 45 graus e fica difícil manter a temperatura abaixo dos 7°C durante o transporte. O que vai acontecer a partir de agora é que as indústrias vão receber notificações e multas quando sair do padrão e isso vai aumentar o custo da cadeia produtiva — ressalta Brandalise.

Ele afirma que a redução da temperatura para a indústria poderia ser de 10°C para 9°C em um primeiro momento e ir reduzindo, gradativamente, até chegar em 7°C.

Outra medida que preocupa a indústria é a exigência de análises mensais de laboratório de cada produtor para identificar resíduos de medicamentos. Brandalise disse que atualmente são feitos levantamentos por carga e que essa nova exigência representará mais um custo de R$ 70 por análise. Em uma empresa com três mil produtores, isso representa um custo de R$ 210 mil mensais.

— Nós somos favoráveis à maioria das medidas das instruções normativas, mas nesses itens precisaria uma revisão. Não adianta termos um leite com padrão internacional e aumentar o custo para o consumidor. Daí teremos um leite muito bom, mas que também não poderemos exportar pois o custo será muito alto — diz Brandalise.

AUMENTO DO LEITE E EXCLUSÃO DE PRODUTORES

O coordenador técnico da Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste (Cooperoeste), Dyoi Fernando Vergutz, calcula que o custo do leite pode aumentar em até R$ 0,5 por litro. A cooperativa tem 1,2 mil produtores vinculados e industrializa 8,5 milhões de litros de leite por mês.

Vergutz acredita que alguns produtores não vão continuar na atividade, pois somente uma exigência, que é a troca de tanques de imersão por tanques de expansão, vai gerar um custo de aproximadamente R$ 4 mil – no caso de um tanque usado – até R$ 8 mil de um tanque novo. Além disso, há outras adequações previstas como a estrutura de uma “sala do leite”, onde o tanque fique protegido.

— São medidas importantes, mas que podem gerar custos de R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 15 mil por produtor. Mas não é só custo, tem questão cultural, de adequar a ordenha, a estrutura, tem o plano de controle de pragas, destino de dejetos, planilhas de uso de antibióticos, uma série de coisas. Aí entra a parte social, pois aquele produtor que produz pouco não vai conseguir atender. A indústria também terá que rever rotas de transporte para que o produto não demore a chegar na indústria — frisa Vergutz.

Na avaliação do coordenador estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), Alexandre Bergamin, as instruções normativas foram copiadas de modelos de países com temperaturas mais frias, como Nova Zelândia e Europa, e que estão numa lógica de concentração da produção e exclusão de produtores.

— Nos últimos 10 a 12 anos o número de famílias que comercializam leite reduziu de 60 mil para 45 mil e é possível que nos próximos cinco anos mais 15 mil a 20 mil famílias caiam fora da atividade por exigências dessas normativas ou então das próprias empresas — salienta Bergamin.

Ele afirma que não há pesquisas sobre o clima, solo e características do país que justifiquem os padrões utilizados nas normativas.

FAESC QUER PRORROGAÇÃO, MAS HÁ ENTIDADES CONTRÁRIAS

A Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina está solicitando ao Ministério da Agricultura prorrogação por dois anos o início de vigência das normativas. A Câmara Setorial do Leite fez um estudo em 12 empresas do país e 70% estão fora do padrão exigidos pelas novas portarias.

Mas nem todo mundo está contra. O presidente do Conselho Paritário de produtores e indústrias (Conseleite), José Carlos Araújo, que também é produtor de leite em Chapecó, produzindo 46 mil litros mês, afirma que a categoria é favorável às mudanças.

— Nós já temos muitos produtores que atendem essas exigências e produzem com qualidade para exportar. Acho que é o momento do produtor melhorar ou então sair da atividade. Assim o produtor poderá ganhar mais por gordura e proteína do leite. Nós queremos essas normativas — diz.

Por Keli Camiloti

Informações NSC Total – foto Felipe Valgoi